13 julho 2022

 


     




CONTENDO


OS PRINCÍPIOS DA DOUTRINA ESPÍRITA


 




COMPILADOS E ORDENADOS POR

ALLAN KARDEC





INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA


I

      Para as coisas novas necessitam de palavras novas, assim o quer a clareza da linguagem para evitar a confusão inseparável do sendido múltiplo dos mesmos vocábulos. As palavras espiritual,  espiritualista, espiritualismo têm uma acepção bem definida: dar-lhes uma nova para as aplicar à doutrina dos Espíritos seria multiplicar as causas já numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem crê haver em si outra coisa, que a matéria, é espiritualista. Mas não se segue daí que crê na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em lugar das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos para designar esta última crença as de espírita e de Espiritismo, das quais a forma lembra a origem e o sentido radical, e que por isso mesmo têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, reservando à palavra espiritualismo a sua acepção própria. Diremos pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípios as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas ou se o quiserem os espiritistas. 

    Como especialidade, O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, ele se prende à doutrina espiritualista da qual apresenta uma das fases. Tal a razão porque traz no seu cabeçalho as palavras: filosofia espiritualista.

II

           um outro termo sobre o qual importa igualmente se entender, porque é uma das chaves de abóboda de toda a doutrina moral, e que é objeto de numerosas controvérsias, por falta de uma acepçao bem determinada; é a palavra alma. A divergência de opiniões sobre a natureza da alma vem da aplicação particular que cada um faz dessa palavra. Uma língua perfeita, em que cada ideia teria sua reprensentação por um termo próprio, evitaria discussões.

        Com uma palavra para coisas, todos mundo se entenderia.

        Segundo alguns, a alma é o princípio da vida material orgânica; ela não tem existência própria e cessa com a vida; é o materialismo puro. Nesse sentido, e por comparação, dizem de um instrumento rachado que não produz mais som; que ele não tem alma. Segundo essa opinião, a alma seria um efeito e não uma causa.

        Outros pensam que a alma é o princípio da inteligência, agente universal do qual cada ser absorve uma porção. Segundo eles, não haveria, por todo o Universo, senão uma só alma que distribui centelhas entre os diversos seres inteligentes durante a sua vida. Depois da morte, cada centelha retorna a fonte comum se confunde no todo, como os riachos e os rios retornam ao mar de onde sairam.

        Esta opinião difere da precedente naquilo que, nessa hipótese, há em nós mais que a matéria e que resta alguma coisa depois da morte; mas é mais ou menos como se não restasse nada, uma vez que, não tendo mais individualidade, naão teríamos mais consciência de nó mesmos. Nesta opinião, a alma universal seria Deus e cada ser uma porção da Divindade; é uma variedade do panteísmo.

    Segundo outros, enfim, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade depois da morte. Esta acepção é, sem contradita, a mais geral, porque, sob um nome sou sobre outro, a ideia deste ser qeu sobrevive ao corpo se encontra no estado da crença instintiva, e seja o grau de sua civilização. Esta doutrina, segundo a qual a alma é a causa e não efeito, é a dos espiritualistas.

        Sem discutir o mérito dessas opiniões, e nelas não considerando senão o lado linguístico da coisa, diremos que essas três aplicações da palavra alma constituiem três ideias distintas que reclamam, cada uma, um terreno diferente. Essa palavra, poir, tem uma tríplice acepção, e cada um tem razão em seu ponto de vista, na definição que dá/ o erro é a língua não ter senão uma palavra para três ideias. Para evitar todo equívoco, presar-se-ia restringir a acepção da palavra alma a uma dessas três ideias,m a escolha é indiferente, tudo está em se entender, é um processo de convenção. Cremos mais lógico tomá-la em sua acepção mais vulgar; por isso chamamos ALMA ao ser imaterial e indiviaul que reside em nós e sobrevive ao corpo.

           Ainda que esse ser não existisse e não fosse senão um produto da imaginação, seria preciso assim mesmo um termo para designá-lo.

         Na falta de uma palavra especial para cada uma das duas outras acepções chamaremos:

     Principio vital, o princípio da vida material e orgânica, qualquer que lhe seja a fonte, e que é comum a todos os seres vivos, desde as plantas até o homem. A vida podendo existir, abstração feita da faculdade de pensar, o princípio vital é uma coisa distinta e independente. A palavra vitalidade não dá a mesma ideia. Para alguns, o princípio vital é uma propriedade da matéria, um mesmo efeito que e produz quando a matéria se encontra em certas circunstãncias dadas. Segundo outros, e é a ideia mais comum, ele reside num fluído especial universalmente espalhado e do qual casa ser absorve e assimila uma parte durante a vida, como vemos os corpos inertes absorverem a luz. Esse seria então, o fluído vital que segundo certas opiniões, não seria outro que o fluído elétrico animalizado, designado também sob os nomes de fluído magnético., fluído nervoso, etc.

        Seja como for, há um fato que não se poderia constestar, porque é resultado da observação, e é que os seres orgânicos têm em si uma força íntima que produz o fenômeno da vida, tanto que essa força exite; que a vida material é comum a todos os seres orgânicos e que ela é independente da inteligência e do pensamento; que a inteligência e o pensamento são falculdades próprias de certas espécies orgânicas; enfim que, entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência e de pensamento, há uma dotada de um senso moral especial que lhe dá uma inconstestável superioridade sobre as outras e que é a a espécie humana. 

           Concebe-se que, com um significado múltiplo não exclui nem o materialismo, nem o panteísmo. O próprio espiritualista pode muito bem entender a alma segundo uma ou outra duas duas primeirras definições, sem prejuízo do ser imaterial distinto ao qual, estão ele dará um nome qualquer. Assim, essa palavra nao representa uma opinião; é um Proteu que cada um acomoda à sua maneira; daí a fonte de tantas disputas interminavéis. 

         Evitar-se-ia igualmente a confusão, servindo-se da palavra alma nos três casos, juntando-lhe um qualificativo que especificasse o ponto de vistta sob o qual consideramos ou a aplicação que dela se faz. Seria, então, uma palavra genérica, representando ao mesmo tempo o princípio da vida material, da ingeligência e do senso moral, e que se distinguiria por um atributo, como o gás, por exemplo, que sedistingue juntando-lhe as palavras hidrogênio, oxigênio ou azoto(nitrogênio). Poder-se-ia então dizer, e talvez fosse o melhor, a alma vital seria comum a todos os seres ornânicos; plantas, animais e homens, a alma intelectual seria a própria dos animais e homens, e a alma espirita pertenceria somente ao homem. Acreditamos dever insistir tanto mais sobre essas explicações quanto a Doutrina Espírita repousa naturalmente sobre a existência em nós de um ser independente da matéria e sobrevivente ao corpo. A palavra alma,  devendo aparecer frequentemente no curso desta obra, importava ser fixada no sentido que lhe atribuímos, a fim de evitar qualquer equívoco.

           Vamos, agora, ao objeto principal desta instrução preliminar.

                                                        III

           A Doutrina Espírita, como toda coisa nova, tem seus adeptos e seus contraditores. Vamos procurar responder a algumas das objeções desdes últimos, examinando o valor dos motivos sobre os quais eles se apoiam, sem ter, totavia, a prentensão de convencer a todos, porque há pessoas que creem ter a luz sido feita só para elas. Dirigimo-nos às pessas de boa ffé, sem ideias preconcebidas ou mesmo intransigentes, mas sinceramente desejosas de se intruir, e lhes demonstraremos que a maioria das objeções que se opõem à doutrina provêm de uma observação incompleta dos fatos e de um julgamento feito com muita reflexão e precipitação.

         Lembraremos primeiro, em poucas palavras, a série progressiva dos fenômenos que deram nascimento a esta doutrina.

           O primeiro fato observado foi o de objetos diversos colocados em movimento.

            Designaram-no vulgarmente sob o  nome de mesas girantes ou dança das mesas. Esse fenômeno, que parecia ter sido observado primeiro na América, ou antes, que se renovou nesse continente, porque a história prova que ele remonta à mais alta antiguidade, se produziu acompanhado de circuntãncias estranhas, tais como ruídows insólitos e pancadas sem causa ostensiva conhecida. De lá, ele se propagou rapidamente pela Europa e outras partes do mundo. A princípios levantaram muita incredulidade, mas amultiplicidade das experiências logo não mais permitiu que se duvidasse da realidade. Se esse fenômeno tivesse sido limitado ao movimento dos objetos materiais, poder-se-ia explicar por uma causa puramente fídica. Estamos longe de conhecer todos os agentes ocultos da Natureza, e todas as propriedades daqueles que conhecemos: a eletricidade, aliás, multiplicava cada dia ao infinito os recursos que proporciona ao homem, e parece dever iluminar a Ciência com uma nova luz. Não haveria, pois, nada impossível em que a eletricidade, modificada por certas circunstãncias, ou outro agente desconhecido, fosse a causa desse movimento. A reunião de várias pessoas, aumentando a força de ação, parecia apoiar essa teoria, porque se poderia considerar esse conjunto como uma pilha múltipla da qual a força está na razão do número de elementos.

           O movimento circular não tinha nada de extraordinário. Está na Natureza; todos os astros se movem circularmente. Poderíamos, ter em ponto pequeno um reflexo do movimento geral do Universo, ou, melhor dizendo, uma causa até então desconhecida poderia produzir, acidentalmente, com pequenos objetos e em dadas circunstãcias, uma corrrente análoga à que arrasta os mundos.




 

        


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